Conheça Antônio, agricultor familiar e liderança de cadastros no Tô no Mapa
Filho de agricultores familiares, Antônio Chaves do Nascimento começou a trabalhar na lavoura quando tinha por volta de 14 anos, na região rural de Altos, Piauí. A terra, ele conta, não era própria, mas de um fazendeiro que marcou sua história. “Ele chegou a denunciar meu pai por roubo d’água na propriedade, porque fomos pegar no olho d’água que tinha ali. No caminho de casa, a cabaça quebrou e ele rastreou a água até chegar a nós. Passam anos e eu nunca esqueço o que aconteceu comigo e com minha família”, compartilha.
Mas o sentimento não é de mágoa. Antônio começou a luta pela terra ainda jovem e foi nos primeiros contatos com a CPT (Comissão Pastoral da Terra) que iniciou sua vida de resistência como liderança comunitária. Nessa trajetória, chegou a ser ameaçado de morte e preso por três vezes em defesa de quem precisava da terra para sobreviver. Hoje, ele atua como diretor na Associação Estadual de Agricultores Familiares do Piauí.
“Esses incidentes causaram dano emocional à minha vida e a gente até se emociona por conta de tudo que passou. Mas, graças a Deus, nunca aconteceu nada. Apesar de terem atentado contra nossa vida, chegando até a atirar na gente, felizmente estamos aqui. Nunca esquecerei isso, não tendo no coração mágoa, desgosto ou rancor”, diz ele. E inspira: “Mas, a cada dia, para eu me tornar uma pessoa mais humana, mais humilde, e buscar, com outras pessoas, encorajar para dizer que é possível a gente viver bem se a gente acreditar no potencial que a gente tem, confiar em Deus e na luta de forma colegiada”.
Seu Antônio comenta sobre a importância da terra para quem tem nela seu sustento e defende que todas as pessoas um dia possam ter a liberdade, define ele, de ter à mesa uma alimentação orgânica, variada, saudável e livre de agrotóxicos.
“O exemplo é o que a gente vive hoje, construindo sonhos, vivendo bons momentos e usufruindo de uma boa alimentação a partir do que a gente planta de forma orgânica sem prejudicar o meio ambiente. Não dá mais para ficar consumindo produtos cheios de químicos que causam danos danos às células. No café da manhã da minha casa eu tenho a liberdade de ter suco, bolo, banana, beiju, melancia, caju e muitas outras coisas orgânicas, e isso é muito bom. Que Deus ajude que todos possam ter um dia essa liberdade”.
No Tô no Mapa, Antônio é liderança de cadastramento de comunidades para o automapeamento de seus territórios no aplicativo. Para ele, um dos principais benefícios que as comunidades têm com o aplicativo Tô no Mapa é a união. “As pessoas se sentem mais encorajadas e vão aos poucos entendendo que não é só aqui, não é só nossa organização, mas que temos muitos parceiros a quilômetros de distância que estão preocupados em ajudar na regularização, e com certeza estão contribuindo muito com a formação e a segurança jurídica para melhorar a vida delas”.
Das comunidades que o agricultor já auxiliou para o cadastramento no aplicativo Tô no Mapa, há quilombolas e agricultores familiares que estão se engajando em ações em prol da coletividade. Começaram a organizar internamente o território com abertura de estradas, por exemplo, e até mesmo trabalhar a comercialização de seus produtos agroecológicos.
Como um aplicativo de celular para automapeamento de territórios de comunidades e populações tradicionais do Brasil, com foco no Cerrado, o Tô no Mapa apresenta o primeiro passo de inserir territórios no mapa, para multiplicar vozes e somar forças ao caminho da regularização de terras e da garantia de direitos.
Antônio dá um exemplo de como o cadastramento no aplicativo pode apoiar territórios que ainda não possuem o reconhecimento e a regularização oficial: “Na hora que liberar a habitação, o agente financeiro do Estado vai querer documentação e aí temos o mapa, com lista das famílias, com certidão de uso real que a organização produziu. É uma iniciativa muito boa para a comprovação da posse legal da terra”.
E deixa uma mensagem às comunidades para se cadastrarem no aplicativo Tô no Mapa:
A mensagem é que as pessoas respeitem os velhos, mas nunca tenham medo do novo. Se surgir uma oportunidade que permita que as pessoas possam ir mais longe, abracem. Principalmente tratando de pessoas que estão apresentando propostas novas, que militam e que lutam por medidas sociais. É importante somar com essas pessoas e com o aplicativo Tô no Mapa. Que as pessoas não tenham medo de desafios, porque o mundo para nós é o agora. O ontem já passou e serviu boas lições. Já o amanhã, esse não chegou ainda. Então vamos viver o agora e encarar o desafio de forma colegiada, para que possamos ter esperança e vida com nossos direitos garantidos.