Estar no mapa é honrar e cuidar do território
O geraizeiro José dos Reis vive há mais de 50 anos em Baixa Grande, comunidade do Norte de Minas Gerais cadastrada no Tô No Mapa, e fala da importância da luta por reconhecimento
Aos 61 anos, o geraizeiro José dos Reis tem orgulho de falar sobre a relação que mantém há cinco décadas com a comunidade de Baixa Grande, localizada em Rio Pardo de Minas, no norte do Estado. O agricultor, que vive da produção da goma de tapioca, tem na plantação de mandioca sua principal atividade financeira. No entanto, o mais importante para ele é a relação que mantém com o território, que é cercado por veredas e áreas preservadas de Cerrado.
José dos Reis chegou em Baixa Grande, comunidade cadastrada no Tô No Mapa, quando tinha apenas dez anos de idade. Na companhia dos pais, dos irmãos e dos avós aprendeu cedo a lidar com a terra e a fazer a goma de tapioca. Foi entre a roça de mandioca e a casa de roda, onde produz a goma, que trabalhou desde cedo para construir a família que tem hoje. No local conheceu a esposa, Ana de Assis Reis, 61 anos, com quem tem três filhos e nove netos. A maioria vive e trabalha na comunidade.
“Quando meus avós chegaram em Baixa Grande, apenas seis moradores viviam aqui. Com o tempo chegou mais gente e criamos a comunidade. Hoje estamos organizados porque a conservação do Cerrado faz parte da nossa cultura”, afirma. José estudou apenas até a 5º ano do Ensino Fundamental, mas se alegra ao dizer que os netos têm hoje a oportunidade de estudar em uma comunidade vizinha de Serra Nova. “Temos transporte escolar para levar e buscar eles da escola todos os dias”.
A maior luta dos moradores de Baixa Grande hoje é a busca pelo reconhecimento do território por parte do Estado e por isso a inclusão no Tô No Mapa é vista como um passo fundamental. “Nós temos uma área de Cerrado bastante preservada e todos reconhecemos a importância da luta pela conservação, estar no mapa nos ajuda em nossa luta diária”, avalia.
Além da mobilização dos moradores junto ao Sindicato dos Produtores Rurais de Rio Pardo, Baixa Grande também conta com o apoio do Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas (CAA – NM) e da Rede Cerrado. “Hoje temos poucos conflitos por aqui porque temos essa cultura de defesa da terra. Nós só tínhamos aqui uma dificuldade com um proprietário, que é de Montes Claros, e planta eucalipto na cabeceira de uma nascente, mas fizemos uma mobilização tão grande que ele abandonou a plantação assim que fizemos o mapeamento e avisamos a ele que notificamos a situação no Tô no Mapa”, conta.
Para o geraizeiro, fazer o cadastro no aplicativo tornou a população de Baixa Grande mais unida em torno da conservação do bioma. “Depois que iniciamos o automapeamento todos os moradores da comunidade passaram a prestar mais atenção na conservação do Cerrado e na importância de nos mobilizarmos para agir em conjunto com o poder público em busca de melhorias. Nós somos vizinhos do Parque Estadual de Serra Nova e nossa relação com o parque melhorou, o que fez com que as queimadas diminuíssem 90% e a o fluxo de água aumentasse”, pondera.
José afirma também que os moradores de Baixa Grande passaram a conversar com as cidades vizinhas sobre as vantagens de se cadastrarem no aplicativo. “Nós recomendamos para outras comunidades, falamos do Tô No Mapa em nossas reuniões da associação e em todas as oportunidades que temos. Estar no mapa é honrar e cuidar do território”, finaliza.
A organização da comunidade contribui também na distribuição da produção da goma de tapioca. “Nós produzimos bastante e a procura é tão grande que não damos conta de atender tudo”, comemora.