Expansão no Maranhão: Tô No Mapa realiza primeira oficina de automapeamento na região do Mearim

A formação reuniu representantes de diversas comunidades em Lago da Pedra (MA)

A formação reuniu representantes de diversas comunidades em Lago da Pedra (MA)

Foto: Acervo ISPN / Ariel Rocha

Incentivar a mobilização das comunidades, tirar dúvidas, dar orientações jurídicas  e aumentar o número de cadastros efetivados: esses são alguns dos resultados das oficinas de automapeamento realizadas pelo Tô No Mapa nos territórios atendidos. 

Ao longo do último ano, seguimos com a expansão do aplicativo no estado do Maranhão e, no começo de novembro, foi a vez de comunidades da região do Médio Mearim receberem a primeira formação. 

A oficina de automapeamento reuniu diversos representantes locais de comunidades tradicionais, agricultores familiares e quilombolas e aconteceu entre os dias 7 e 8 de novembro em Lago da Pedra (MA), na sede do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais do município. 

Foto: Acervo ISPN / Ariel Rocha

Luta por demarcação em territórios com conflitos

A região do Médio Mearim tem sido palco de intensos conflitos impulsionados pela pressão do agronegócio sobre as comunidades, em especial o cultivo de soja e a pulverização aérea de agrotóxicos. Além de promover danos à saúde das populações que vivem nas comunidades pressionadas, impulsionar a concentração fundiária e as especulações das terras agrícolas, esse avanço do agronegócio gera expulsões e perdas de território, e a violação dos direitos de quilombolas e agricultores familiares. É uma ameaça à vida das comunidades tradicionais.

Lucas Lima de Sousa, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STTR) de Lago da Pedra (MA), conta que hoje muitas pessoas estão deixando suas comunidades porque não conseguem mais produzir. “São comunidades que foram fundadas há mais de 40 anos e hoje as famílias estão saindo devido ao agronegócio,  deixando aquilo que produziram com muito suor e com muita luta para ir para a cidade buscar alguma solução de sobrevivência”, comenta. Uma das estratégias do agronegócio é a pulverização aérea de agrotóxico por cima das terras e das casas das pessoas: “O veneno que eles estão jogando está adoecendo as pessoas e animais, matando a lavoura dos trabalhadores”, explica Lucas.

Foto: Acervo ISPN / Ariel Rocha

Mobilização e fortalecimento das comunidades

Nesse contexto, a realização de oficinas e o trabalho de automapeamento nos municípios maranhenses em que o agronegócio tem gerado inúmeras denúncias de violências sofridas pela população local é uma importante ferramenta de mobilização e fortalecimento junto às comunidades. 

Para Lúcia Maria da Silva e Silva, lavradora quilombola da Comunidade Quilombo Alto Grande, em São Mateus (MA), participar da oficina é uma oportunidade de ampliar o seu conhecimento, para então compartilhar e multiplicar: “O aplicativo vai ajudar a mostrar onde estão os grandes conflitos e onde precisa ser demarcado para que as pessoas tenham paz”. Além de agricultora, Lúcia atua como tesoureira na Associação de Moradores da Comunidade, faz parte de conselhos dentro do município e no Sindicato é Secretária de Formação e Organização. “Para mim, a capacitação nessa oficina é excelente para chegar lá e repassar [as informações], não só para a minha comunidade, mas para as outras comunidades que a gente também representa”, destaca.

Os participantes acompanharam as explicações sobre o Tô No Mapa, como e por que mapear, objetivos do cadastro, como instalar e navegar pelo aplicativo. Na sequência, refletiram sobre os problemas que cada comunidade enfrenta e pensaram em soluções e possíveis parcerias para colocá-las em ação, com planos de incidência política. Essa edição da oficina de automapeamento em Mearim ainda contou com uma  novidade: atividades integradas com advocacy. 

O antropólogo e assessor técnico do Tô No Mapa no ISPN (Instituto Sociedade, População e Natureza), Carlos Lourenço de Almeida Filho, compartilha uma avaliação positiva dos encontros na região. “Foram bem ricos esses dois dias porque tivemos também alguns atendimentos para orientação e apoio jurídico. Esse foi um diferencial, porque além de falar dos cadastros em si e da importância de mapear, ao pensarmos os mapas mentais de suas comunidades, também refletimos sobre os problemas e conflitos que eles enfrentam. Então agora com esses planos, tentamos sistematizar em conjunto que eles colocavam ali como pontos de atenção”, comenta.

Foto: Acervo ISPN / Ariel Rocha

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