“Eu sou apaixonada pela minha roça”
Norinda dos Santos vive na comunidade de Bom Acerto, no sul do Maranhão, e conta sobre a agricultura familiar no sertão.
O amor pelas plantas cresceu junto com Norinda dos Santos na comunidade de Bom Acerto, que fica na região de Balsas, no sul do Maranhão. A agricultora familiar lembra que os pais chegaram por volta dos anos 1970 na comunidade já habitada.
“Tem um monte de coisa a contar daqui da comunidade. Meus pais chegaram e acabei de me criar em Bom Acerto. Me casei, tive família. Sou mãe de seis filhos, todos criados na comunidade. Era uma vida ótima, sem nenhum problema. Nós vivíamos bem nessa comunidade que sempre foi de muita gente”.
Norinda conta que passa o dia inteiro na roça. Desde que se lembra, o deslumbramento é certo ao acompanhar os ciclos do plantio.
“Eu sou apaixonada pela minha roça, pelos meus plantios. Passo o dia todo praticamente dentro da roça. É uma emoção que eu tenho, e não desfaço dela nunca, de viver dentro do meu serviço, da minha roça. De ter minha mandioca, meu tomate, meu abacaxi, enfim, as coisas que a gente produz no sertão”.
Além da agricultura familiar, a comunidade de Bom Acerto trabalha com a pesca artesanal, criação de animais de pequeno porte, como as galinhas, e com o extrativismo. Os produtos são voltados, principalmente, à subsistência.
Mas as plantações tiveram suas dificuldades. Norinda se emociona ao lembrar do cultivo de abacaxi danificado em meio a um conflito agrário em que a comunidade se viu envolvida a partir de 2014. Bom Acerto se apoiou em entidades como os sindicatos rurais, além da Comissão Pastoral da Terra, para lidar com a questão judicial.
A equipe do Tô no Mapa esteve na comunidade para a realização de oficinas sobre o automapeamento por meio do aplicativo. Depois do cadastro concluído e validado, os moradores recebem um documento com as principais informações do território – mapa, limites, habitantes e áreas de uso, por exemplo – que pode ser incluído em processos de regularização fundiária.
“Nós sabemos que Justiça tem para todos, e nós esperamos que um dia tenha uma decisão que seja legal. Se nós temos direitos, nós queremos viver aqui na comunidade Bom Acerto. Nós nunca queremos viver avançando em nada de ninguém. Tem uma regularização certa”.
Comunidades cadastradas no Tô no Mapa também escolhem compartilhar os seus dados, os mesmos já inseridos no aplicativo, com a Plataforma de Territórios Tradicionais, do Conselho Nacional de Povos e Comunidades Tradicionais. Assim, podem ter mais força em casos judiciais, junto à 6ª Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal, responsável por defender grupos que têm em comum um modo de vida tradicional e ligado ao meio ambiente.
Para o futuro, Norinda quer começar recuperando o que a comunidade já tinha antes do conflito: produção familiar estabelecida, acesso à saúde e educação. O direito à terra, assegurado por lei, será a novidade para tornar tudo – e mais um pouco – possível de novo.
“O meu desejo é que nós tenhamos o direito de viver na nossa terra, no nosso pedaço de terra, sem ter aborrecimentos. Nós sabemos que aqui é o nosso direito. Depois, nós podermos construir as necessidades de uma comunidade, né? Como era antes. Ter acesso à escola, mesmo que não seja na comunidade, mas aqui por perto, para levar nossos filhos. O nosso desejo é ficar todo mundo junto aqui, construir posto de saúde, igreja, para ter movimento na nossa comunidade. Ter as nossas roças, como nós tínhamos. Ter nosso plantio, ter o que comer. Trazer da cidade só o que a gente não produz aqui”.