“A maior riqueza que a gente tem é nossa sociobiodiversidade”
Integrante da equipe do Tô no Mapa, Katia Favilla é secretária-executiva da Rede Cerrado e participou do encontro “#Colabora6anos – Seis debates fundamentais”
“A gente não quer expropriar as pessoas nem o meio ambiente. Talvez a maior riqueza que a gente tem no Brasil seja a nossa sociobiodiversidade: somos extremamente diversos socialmente e a biodiversidade também é muito vasta. São povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos, vazanteiros, veredeiros, geraizeiros… Temos o Cerrado, o Pantanal, a Amazônia… E em cada bioma estão pessoas que vivem de formas distintas. Então, sim, nós temos vocação para entender essa sociobiodiversidade e respeitá-la”. Dessa forma Katia Favilla, da equipe do Tô no Mapa e secretária-executiva da Rede Cerrado, deu início à conversa no ciclo de debates “#Colabora6anos – Seis debates fundamentais”.
Com o tema “Preservação e Crescimento: a economia da floresta em pé”, o painel sobre Meio Ambiente no evento teve também a participação de Nélida Tainá, indígena da etnia Terena que é liderança de cadastramentos do aplicativo de celular Tô no Mapa na Terra Indígena Taunay-Ipegue e estudante de engenharia florestal na UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso); e de Francisco Costa, pesquisador do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos da UFPA (Universidade Federal do Pará). A mediação ficou por conta de Agostinho Vieira, jornalista e editor do #Colabora.
A proposta da conversa foi levantar questões de justiça socioambiental e climática pela ótica da economia sustentável. Como foco do Tô no Mapa, aplicativo que possibilita o automapeamento de territórios tradicionais do Brasil, as populações tradicionais são reconhecidas historicamente pelo seu trabalho de conservação da natureza. Seja com o manejo equilibrado dos recursos naturais, nos exemplos da agricultura familiar e da agrofloresta, seja com a proteção e restauração dos biomas, como na atuação de povos indígenas em brigadas voluntárias e em mutirões de reflorestamento.
“O Tô no Mapa é justamente isso. A gente tenta trazer à tona a riqueza da sociobiodiversidade e mostrar de que maneira comunidades e territórios tradicionais já atuam para a conservação dos biomas do Brasil”, disse Katia. De maneira complementar, Nélida afirmou que é preciso pensar nos produtos da biodiversidade como um bem para todo o país. “E enquanto não tivermos lideranças que tenham esse mesmo olhar para a preservação e para a conservação, acredito que estamos muito longe de querer ser uma potência econômica. Uma minoria continuará se beneficiando enquanto a maioria irá perder. O agronegócio está chegando nas aldeias e precisamos apresentar opções de fonte de renda dentro das comunidades sem desmatar”.
Francisco reforçou a necessidade de subsistência financeira das comunidades e de os saberes tradicionais se aproximarem do que chamou de “economia real”. Segundo dados que apresentou na conversa, em torno de 30 produtos locais – como o açaí e a castanha – fizeram circular R$ 5,4 bilhões na economia e empregaram mais de 200 mil pessoas em diversos segmentos do mercado, como no comércio e na indústria, somente em 2019. “É fundamental, nesse aspecto, dar sentido e conteúdo ao patrimônio que por alguns é visto apenas como obstáculo à obtenção de verdadeiros ‘recursos’. A discussão é puramente econômica, então as métricas vão contrapor essas duas questões. Mas, não é por aí que a gente vai entender o grande paradoxo desse sentido para nós todos”, comentou.
A integrante da equipe do Tô no Mapa acrescenta que o projeto de automapeamento de territórios tradicionais, além de fundamental para inserir povos, comunidades tradicionais e agricultores familiares no mapa, é importante para desconstruir a ideia de que biomas como a Amazônia e o Cerrado são vazios populacionais. Katia defendeu: “O mapa é uma ferramenta política”, que dá visibilidade a um território que é físico e é também simbólico, com suas culturas, tradições, histórias, modos de vida e direitos.
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