Comunidade geraizeira Pindaíba se fortalece na defesa do território

Entre a presença de mineradoras para explorar o subsolo e do monocultivo de eucalipto por empresas na superfície, a organização coletiva mostra o caminho para a permanência na comunidade que foi fundada em 1840

A Comunidade Pindaíba foi uma das visitadas pela equipe do Tô no Mapa em viagem de campo pelo norte de Minas, com parceria do CAA-NM (Foto: Bibiana Garrido/IPAM)

“Que a luta de todos os povos tradicionais seja uma luz no fim do túnel para a preservação ambiental e para a criação de políticas públicas pela vida das pessoas, sem destruir o meio ambiente”. A frase é de Tobias de Oliveira, geraizeiro nascido, criado e vivido na Comunidade Pindaíba, na região de Rio Pardo de Minas (MG). Fundada em 1840, a comunidade abriga áreas de conservação e de nascentes, como as dos rios Guará e Buriti, e tem como principais atividades de moradores e moradoras a criação de animais e o extrativismo de Pequi.

A partir da vivência no território e da autoidentificação como comunidade geraizeira, os moradores e as moradoras de Pindaíba cadastraram o território no Tô no Mapa como forma de se apropriar de mais um instrumento para a gestão das atividades.

“Ser geraizeiro é quem tem uma identificação e um vínculo com todo o espaço, com o meio ambiente e com o entorno da comunidade. É aquela pessoa que sabe conviver com a natureza, mas sem passar por cima do meio ambiente, tirando só aquilo que é necessário e preservando. O Cerrado nos dá tudo que a gente precisa para sobreviver, é de onde a gente tira muito alimento, muita fruta, muita planta medicinal… até madeira de uso do dia a dia, para construção de curral e de cerca para os animais. Isso traz uma diferença muito grande para a gente que é justamente o relacionamento com o meio ambiente, é como a gente trata, preserva, dando uma importância principalmente para a água, as nascentes e os mananciais”, explica Tobias.

Na visita, a comundade identificou pontos no mapa com áreas de uso do território, áreas ocupadas pelo monocultivo de eucalipto e áreas das jazidas de minério de ferro (Foto: Bibiana Garrido/IPAM)

Os modos de vida na comunidade que já vêm de séculos de tradições lidam hoje com a presença de mineradoras que visam a exploração de minério de ferro no subsolo, e de empresas de monocultivo de eucalipto na superfície. Áreas da comunidade estão ocupadas ou até mesmo reservadas por essas iniciativas em cima e debaixo da terra. Quem lá vive fala da preocupação com o abastecimento de água, pois territórios tradicionais da região já lidam com a falta d’água e Pindaíba é uma das únicas comunidades que ainda não passou por isso. Outro ponto destacado é a necessidade de diálogo para que a comunidade seja ouvida pelas mineradoras e empresas, de forma que se estabeleçam acordos para minimizar impactos dos empreendimentos para as pessoas e para a natureza.

“Todas as comunidades no nosso entorno tiveram problema com falta d’água, secaram as nascentes, e a comunidade Pindaíba foi a única que não teve esse problema. Temos várias nascentes muito boas e muito puras dentro do território, nunca faltou água aqui nem para as pessoas, nem para os animais. É água que jorra o ano inteiro, diminuiu em alguns períodos de seca, mas nunca faltou. Tem nascente, inclusive, na área das jazidas de minério de ferro. A retirada delas, essa água também vai sofrer o impacto”, conta o geraizeiro.

Abastecimento de água na comunidade ainda é vasto (Foto: Bibiana Garrido/IPAM)

E Tobias continua seu relato: “A agricultura do eucalipto está presente no território da comunidade e a mineração já é praticamente uma realidade: o território tem uma grande jazida de minério de ferro e desde os anos 1970 as empresas já fazem pesquisa aqui. Por isso, a gente precisa dialogar com esse pessoal, para ter um gerenciamento do território, sem destruir tanto. Quando tive conhecimento do Tô no Mapa por meio do sindicato, do CAA [Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas], me inscrevi na oficina e busquei arduamente colocar a comunidade no Tô no Mapa para ajudar a gerir, preservar e conduzir esse nosso território”.

Com a organização coletiva entre sindicatos de trabalhadores, associações como o CAA-NM, conversas e articulações das comunidades, Pindaíba se fortaleceu para uma posição em defesa do território. O trabalho no dia a dia na terra acompanha o crescimento da união entre populações tradicionais geraizeiras e de outros segmentos para fazer valer o direito à permanência no território, com a natureza saudável e preservada para a vida de todas e todos com mais qualidade.

Com a força no presente, Tobias olha para o futuro (Foto: Bibiana Garrido/IPAM)

A mensagem de Tobias para a sociedade é a seguinte:

“Para todas as pessoas de territórios e comunidades tradicionais, a nossa luta é importante para a preservação do meio ambiente. Se não ouvirem e não copiarem o modelo de relacionamento que as comunidades têm de relacionamento com a natureza, dificilmente a gente vai conseguir gerir o meio ambiente, manter ele preservado, utilizando dele para sobrevivência sem destruí-lo. Que a luta dos geraizeiros, dos quilombolas, de todos os povos tradicionais nesse país, seja uma luz no fim do túnel para a gente poder fazer uma preservação ambiental e criar políticas públicas para a preservação, para a vida das pessoas, para a renda, sem destruir esse meio ambiente que já vem tanto sofrendo perseguição e destruição”.

Veja no vídeo!

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